Não dá pra falar da história da Tipografia sem antes falar da Fábrica de Máquinas Tipográficas Gapski. É que o envolvimento da família com a arte tipográfica começou antes mesmo da fundação da própria tipografia.
Em meados dos anos quarenta, os irmãos Paulo, João (Jango) e Sesisnando (Zico) instalaram uma pequena tornearia mecânica no fundo do terreno de seus pais Luiz e Apolonia Gapski (no bairro Bom Retiro) e especializaram-se na fabricação de máquinas tipográficas (prelo manual motorizado) cuja produção era vendida para todo o Brasil inclusive para a Fundição de Tipos Modernos S/A. – FUNTIMOD, com sede em São Paulo.
Os irmãos detinham conhecimento para a fabricação das peças que compunham as máquinas tipográficas e esse foi o grande diferencial da empresa. Paulo, infelizmente, deixou os irmãos muito precocemente cabendo a Jango toda a tarefa de tornearia e à Zico a parte administrativa e manuseio da plaina.
Jango (assim como Paulo) era torneiro mecânico por formação e demonstrou grande habilidade na fabricação das peças que exigiam têmpera em aço. Jango também fabricava algumas peças nas fresas do SENAI e lecionava o oficio aos alunos da área de mecânica.
As máquinas ganharam notoriedade nacional pela eficiência e facilidade com que desempenhavam seu trabalho e eram conhecidas como Máquinas Gapski.
Da fábrica de máquinas para a própria tipografia o caminho foi natural. Em 27 de agosto de 1957 os irmãos Zico e Jango juntamente com sobrinho Otávio Gapski, fundaram a tipografia sob a denominação Irmãos Gapski e Cia Limitada.
Passados três anos, Otávio deixou a sociedade que passou a se chamar Gapski & Gapski Limitada e, em 1966 Jango também se retira da sociedade que continua a atividade sob o comando exclusivo de Zico, agora denominada Gapski & Cia Limitada. Zico permaneceu à frente do negócio até meados dos anos oitenta, quando se aposentou e encerrou a atividade empresarial.
A Tipografia Gapski, teve uma forte atuação no mercado de impressos de Curitiba e, pautada na seriedade e respeito ao cliente, atendia algumas das mais tradicionais empresas da região, tais como a Berneck, Gava, A.B. Nogueira Comércio e Industria de Madeiras, Liquigás, Cia Estearina Paranaense, além de prestar serviço para alguns entes federativos e diversos postos revendedores de combustível (Ipiranga, Shell, Texaco, BR, Atlantic, Esso).
O envolvimento da família com a tipografia parecia ter chegado ao fim quando a tipografia Gapski fechou as portas na década de oitenta. Os descendentes de Zico dedicaram-se ao estudo da Medicina, Odontologia e Direito.
Mas havia algo guardado. Carlos, filho de Zico, manteve a tipografia do mesmo exato jeito que seu pai a deixou.
Os anos passaram, letárgicos, no antigo imóvel localizado na Rua Coronel Joaquim Sarmento, nº 66. O tempo se impôs e deixou suas marcas: a poeira, a ferrugem e a umidade. A microbiota que habitou o lugar sossegadamente durante quase quatro décadas também deixou seus vestígios.
Mas a vida dá voltas e, em 2020 quando a palavra de ordem foi ressignificar, Raquel Gapski – a neta mais nova de Zico – enxergou a beleza desse tesouro guardado e lançou-se na cruzada afetiva pelo resgate das memórias familiares e pela revitalização da tipografia de seu avô.
Raquel e seu marido Lincoln deram cara nova à antiga oficina tipográfica sem, no entanto, retirar sua essência. “Partindo dessa premissa, nossa intervenção procurou revelar a beleza da estrutura e do mobiliário, ainda que tenha sido necessário agregar outros, que acredito tenham apenas destacado aquilo que já existia, pois o protagonismo é da história.”, acredita Lincoln.
Os clientes são atendidos na própria oficina e assim podem vivenciar a experiência, pois o processo de pré-impressão e impressão é lindo de se ver. “É apaixonante ver as chapas montadas com tipos móveis, a tinta sendo preparada manualmente e a máquina de impressão funcionando. Eu adoro usar a impressora fabricada pelo meu avô. É um sentimento de conexão muito forte.”, afirma Raquel.
As impressões são feitas com os tipos móveis e com as máquinas da antiga tipografia (as máquinas estão chumbadas no chão desde 1957). Visitar a tipografia é uma espécie de volta ao passado. É possível ver as máquinas funcionando e admirar os tipos móveis e demais equipamentos tipográficos.
O lugar é uma verdadeira homenagem à arte tipográfica e sobretudo a história da família Gapski.