Depois de ter passado dois meses organizando a minha saída do mundo jurídico, chegou o tão aguardado e temido dia de deixar o palco. O sentimento foi de alegria por um lado, tristeza por outro. Aquele misto de liberdade e medo; sandice e lucidez.

Nas semanas que se seguiram tive até medo de errar o caminho e seguir, distraidamente, para o escritório. Mas isso não aconteceu. Até mesmo porque o tênis no pé não me deixava enganar. Apesar disso, às vezes ainda digo por aí que eu sou advogada, mas logo corrijo a sentença e afirmo que eu éééra advogada.

Vem daí uma certa crise de identidade. Mas, afinal, o que eu sou agora? Não sou mais advogada, ok. Mas também não sou tipógrafa, não sou impressora, não sou empresária, não sou designer. Não sou nada disso, apesar de estar compondo com tipos móveis, me aventurando no prelo tipográfico, administrando a Tipografia Gapski e lendo horrores sobre o mundo encantado do design.

Cheguei então à conclusão de que a melhor forma de me auto definir é como maior aprendiz! Pois é… já passo um pouco dos 18 anos e me sinto uma caloura descobrindo o mundo.

Virei uma estagiária de primeira. Aquela que chega cedo e sai tarde; que fica de olho em tudo o que pode; que não perde uma oportunidade de aprender algo com alguém; que topa fazer o que não sabe na certeza de que vai conseguir (pura e simplesmente com base na fé).  

É imbuída desse espírito que eu resolvi compartilhar as minhas experiências aqui na tipo. Ciente de que trabalhar com tipos de metal em plena era digital é andar na contramão do avanço tecnológico, penso que será interessante escrever sobre o meu aprendizado e, em última análise, sobre as delícias e as agruras de recomeçar a vida aos quarenta.

Sem mais delongas, no próximo artigo vamos ao que interessa, sem medo de errar!

9 respostas

  1. Que lindo Raquel, muito orgulho da sua coragem para o início de uma nova trajetória, uma história linda e que já está dando certo, onde há paixão e dedicação não tem chance de dar errado. Empreender é uma aventura loucamente deliciosa nessa nossa vida passageira. E é para poucos. Parabéns.

    1. Muito obrigada, Ceres.
      Você é um exemplo a ser seguido, quero detalhes da sua receita de sucesso!
      Tenho muito a aprender com você!

  2. Adorei, como é bom ler um depoimento desse, me identifiquei demais, mudança é como uma nova identidade, vivo o mesmo momento, a diferença é que voltei ao inicio da profissão, aprendendo, poucos sobraram para ensinar……e maior Aprendiz…..adorei

    1. Obrigada Wagner, meu novo colega de profissão.
      Estou ansiosa para conhecê-lo pessoalmente para conversar por horas e horas e horas sobre…. tipografia! hahaha
      Muito legal o seu retorno às origens. Tipografia deve ser como andar de bicicleta, a gente nunca esquece.

    1. Ricardo, meu amigo querido.
      Obrigada pela sábia citação.
      Vou gravar com tipos móveis um marcador de página com as palavras de Simmel e mandar alguns para você. Melhor seria você vir buscar…
      Um beijo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *